Por muito pouco, não aconteceu um fato grave com cunho religioso, na tarde deste sábado (27), no município de Lauro de Freitas, estado da Bahia. É nesta cidade que abriga mais de 400 terreiros de candomblé que acontece inúmeros casos de intolerância e ódio religioso.
O fato de hoje aconteceu no Jockey Clube, loteamento de classe média, onde está instalado o Ilê Oba L’Okê, terreiro de candomblé liderado pelo Babalorixá Vilson Caetano e seu companheiro Rodrigo Siqueira que relatou a redação do Folha, que por volta das 17 horas e 30 minutos, um homem tocou a companhia do terreiro e foi atendido por ele.
Num estado de descontrole e muito nervoso, o homem, que é evangélico, acusou a comunidade de ter sido responsável por um “bozó” colocado em frente a sua casa, que fica próximo ao terreiro.
Segundo depoimentos, Rodrigo Siqueira, teria explicado ao homem que a casa não tinha conhecimento, nem tão pouco responsabilidade para com a oferenda, mas o homem insistia em dizer que era daquela comunidade que saia “os bozós” que poluíam a rua. Ele gritou que o candomblé era uma casa de bozó. Sendo assim, o que estava na porta dele teria saído do candomblé mesmo.
Revoltado com a acusação, Rodrigo subiu o tom de voz e para garantir a integridade e a dignidade da sua comunidade, mandou que o homem saísse de sua porta e a discussão entre os dois evoluiu.
“Graças a Deus e aos orixás os ânimos se acalmaram e um fato mais grave não aconteceu. Eu já vivo tensa aqui em casa… Quando a campainha toca meu coração já bate forte. São mais de 10 anos de perseguição á nossa comunidade”. Disse mãe Dete de 70 anos, moradora do terreiro.
Vilson Caetano, líder espiritual da casa, afirma que esse homem já vem perseguindo o terreiro há algum tempo. Disse ainda, que esta é a segunda vez que ele foi à porta do terreiro. A primeira se deu a mais de 4 anos, logo após a inauguração do barracão quando ele acusou a comunidade do sumiço de um de seus gatos.
Para Ana Luzia da Rede Orooni, a perseguição ao Oba L’Okê acontece pelo fato de estar localizado num bairro considerado nobre e por ser é um dos imóveis, mas bem avaliados da rua. Segundo ela, isso causa insatisfação em muita gente. “As pessoas não admitem um terreiro aqui. O racismo ensinou que terreiro é coisa de negros e só deve existir na periferia”. Afirmou
É do terreiro Oba L’Okê, o primeiro caso de intolerância religiosa a ser julgado em Lauro de Freitas. A audiência acontecerá no próximo dia 8 de agosto no fórum criminal da cidade. Entidades de proteção e defesa das comunidades de matriz africana como a AFA (Associação Afro-ameríndia), O Orooni (Rede Jovem de Candomblé) a ACBANTU (Associação Cultural de Preservação da Cultura Bantu) e a FENACAB (Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro) acompanham o processo e organizam um ato na porta do Fórum no dia do Julgamento.
As autoridades precisam tomar medidas mais enérgicas no combate ao ódio e a intolerância religiosa ou correremos o risco registrar a qualquer momento em qualquer lugar uma fatalidade sem precedentes.
Por: Ricardo Andrade