O Festival Cultural do Quinta da Glória, realizado nos dias 27 e 28 de Abril, já é considerado como a maior e mais efetiva ação de política cultural já realizada num residencial do Programa Minha Casa Minha Vida no Estado da Bahia. Representantes de movimentos sociais por moradia afirmam desconhecer outra iniciativa com poder de transformação, formação e desenvolvimento comunitário como a realizada no Quinta da Glória.
A ação que durou cerca de dois meses e reuniu dezenas de artistas locais e convidados, superou até as mais otimistas expectativas. A recepção e participação dos moradores frente a ação cultural, deixou claro que iniciativas como essa são cada vez mais necessárias para o desenvolvimento social e político das comunidades.
As lideranças comunitárias do residencial, que está localizado no bairro de Itinga, Lauro de Freitas, afirmam que o Festival é um marco na comunidade e que a partir de agora, o Quinta da Glória vai ser compreendido em dois momentos, o antes e o depois do Festival Cultural.
O coordenador geral do projeto, Ricardo Andrade, afirma que o objetivo do projeto foi alcançado em sua plenitude. Segundo ele, a intensão de provocar a iniciativa comunitária, promover e incentivar as relações sociais no sentido de reorganizar a comunidade teve pleno êxito. Ricardo afirma ainda, que a parceria com o Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC), a Secretaria Municipal de Cultura (SECULT), Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade (SEPROMI) e o Fórum Pós-Ocupação foi fundamental para a realização da ação.
Além de identificar, mapear, classificar e potencializar os artistas existentes na comunidade, proporcionando a eles a oportunidade de entrar pela primeira vez num estúdio e fazer uma gravação, o projeto viabilizou também momentos importantes como a Roda de Diálogo que debateu a identidade territorial da comunidade que sofre com a indefinição do Estado, com relação aos limites geográficos dos municípios de Salvador e Lauro de Freitas.
A deputada estadual e presidente da Frente Parlamentar de Defesa das Cidades e das Engenharias da Assembleia Legislativa, Maria Del Carmen, disse que ficou muito contente com o nível e o conteúdo do debate. A deputada afirmou que a comunidade sabe o que quer, que tem uma identidade definida.
“Não há confusão na cabeça dos moradores quanto a sua identidade cultural e de pertencimento. Estou muito feliz por estar aqui. Esta comunidade sabe o que quer”. Afirmou.
Os grupos culturais deram o tom à festa. O Bambolê e a Cia Cultural Ereoatá transformaram o Quinta da Glória num mundo encantado para as crianças. O ritmo ancestral das bandas percussivas Atikun (do mestre Luidy), Tambores da Liberdade e a Band’Erê afirmaram a identidade étnica de matriz africana, tão fortemente presente na comunidade. A sintonia entre as batidas da marcação e do coração era perfeita. Mulheres e crianças bailavam e seus corpos de forma quase que automática obedeciam às ordens emanadas dos instrumentos.
As bandas No Groove, Soul Love e Pra Abalar trouxeram, o que temos de melhor de nossa musicalidade proporcionando à comunidade as diversas variantes musicais. O rapper Kaos, da Família LF, deu um show à parte. Além de trazer o mais autêntico rap de Lauro de Freitas para o Festival, o MC comandou também as batalhas de rima que produziu momentos de máxima interação entre os participantes, levando o público ao delírio. O dueto entre Kaos MC e Uilson Negrine da banda Atikum foi um momento divino do festival.
A revelação do Festival foi a prata da casa, o cantor Cristovinho, morador da terceira etapa do residencial. Cristovinho tocou os dois dias de Festival. A intimidade do cantor com seu público é algo inexplicável.
Mas o auge da festa foi mesmo a apresentação dos calouros. A comunidade não se conteve ao ver os artistas locais no palco, ao lado de músicos profissionais, soltando a voz e mostrando talentos até então desconhecidos. Foi difícil conter as lágrimas. Artistas e publico unidos pela emoção de um momento que se tornou eterno e que marcará pra sempre suas vidas. Isso foi o Festival Cultural do Quinta da Glória.
Palavra do Secretario
O secretário municipal de cultura, Manoel Carlos, participou da roda de diálogo e descreveu como extraordinário o debate acerca da identidade territorial, que teve a participação da comunidade, políticos e o movimento social.
Carlucho afirmou que a identidade cultural está diretamente ligada ao sentimento de pertença da comunidade, por isso entende como urgente a necessidade de resolução desse problema. Carlucho disse também que a realização do Festival Cultural do Quinta da Glória é uma ação revolucionária alicerçada no Plano Municipal de Cultura e que atende a orientação da prefeita Moema Gramacho que quer a cultura interiorizada e pulsante nas periferias.
Alcides Carvalho, presidente do Conselho Municipal de Política Cultural, vê também o Festival como uma uma proposta pedagógica, que dá acesso à todas as variantes culturais permitindo que a comunidade tenha a oportunidade de prestigiar outros ritmos e expressões culturais.
“Já conversamos com os produtores do Festival e já estudamos a possibilidade de replicar a ação em outras comunidades. Tanto o CMPC quanto a SECULT vão se empenhar para que isso aconteça”. Finalizou.
Por: Ricardo Andrade