O racismo tem a competente capacidade de destruir identidades, inviabilizar projetos e invisibilizar talentos, tanto em nível individual quanto no coletivo. Isso significa que seus efeitos danosos, podem ser perceptíveis tanto num indivíduo quanto numa comunidade inteira.
A comunidade do Capelão, situada nomunicípio de Lauro de Freitas, traz na sua estrutura sócio-politico-cultural os efeitos dessa manifestação.
Apesar de ser uma comunidade recheada de excelentes iniciativas e de um povo forte, aguerrido e trabalhador, e, possuir uma juventude ativa e talentosa, o Capelão vive à margem da sociedade laurofreitense.
Com características próprias de uma comunidade periférica e negra, o Capelão sofre os efeitos do racismo que se manifesta na sua forma mais perversa e oficial: o racismo institucional.
As lâmpadas dos postes, diferentes das que são instaladas em Vilas do Atlântico, não possibilitam, sequer, ler um livro na praça. E por falar em praça, é bom citar que não há uma, naquela comunidade e as atrações de lazer e entretenimento resumem-se aos bares e botecos.
Na educação, faltam livros, merenda de qualidade e infra-estrutura que permita a construção da cidadania.Na saúde, faltam médicos especialistas e remédios nos postos.
Mas, apesar disso tudo, o Capelão tem o seu povo. Tem sua gente que independentemente das conjunturas políticas, atuam no desenvolvimento da comunidade e dão exemplo de participação e iniciativas populares.
Real Capelão – Enquanto o governo não consegue desenvolver, nem aplicar a política de esporte, cultura e lazer, uma fagulha de esperança, em meio à tanta falta de expectativa e incertezas futuras, permanece acesa no coração do Capelão. Josenilson Sampaio dos Santos, conhecido como Dó, toca o projeto da Escolinha de Futebol, que oportuniza dezenas de garotos e garotas da comunidade, a partir da prática esportiva, apontando para um horizonte menos hostil.
Os atribulados – iniciativa juvenil que
desenvolve um projeto audiovisual, apesar de sofrer com o desinteresse das operadoras de comunicação, que não investem na expansão da banda larga para aquela região, por entenderem que o retorno financeiro é insuficiente, ainda que isso custe o desenvolvimento da comunidade. Esses jovens colocam seus talentos à disposição da comunidade, com roteiros sátiros e carregados de humor, que entretém e divertem a população.
A pedreira, que lucra com a exploração dos recursos naturais na comunidade, não oferece contrapartidas socais que reparem os danos causados à polução, assim como o Consórcio Bahia Norte, que dilacerou a comunidade, ao meio, com a construção da Via Metropolitana.
Por: Ricardo Andrade